QUALIDADE AMBIENTAL
QUALIDADE DAS ÁGUAS DA BACIA HIDROGRÁFICA
DO RIO GRAVATAÍ
HISTÓRICO
O rio Gravataí é monitorado desde 1980, através da Rede Básica de Monitoramento,
operada pelo laboratório do antigo Departamento de Meio Ambiente ? DMA, atual Fepam.
Em 1989 esta Rede foi suspensa, sendo reatada em maio de 1992.
A partir de maio de 1998 o monitoramento do rio Gravataí foi incluído no Pró-Guaíba
? Rede de Monitoramento Ambiental. Neste programa, o projeto de Monitoramento dos
Recursos Hídricos é realizado pela Fepam, Corsan e Dmae. Cada entidade é responsável
pela coleta e análise do ponto de amostragem sob sua responsabilidade.
Este relatório apresenta uma avaliação da qualidade da água do Gravataí ? comparando
os dados da qualidade atual e o Enquadramento do rio em Classes de uso, conforme
Portaria 02/98 ? SSMA, com base na Resolução Nº 357 / 05 CONAMA.
A análise e divulgação destes resultados visam comparar os resultados das análises
com a legislação vigente e fornecer subsídios para elaboração do plano de ação de
recuperação da bacia hidrográfica do Gravataí ? Plano de Bacia, em elaboração.
Foram utilizados apenas os dados gerados pelo Departamento de Laboratório da Fepam.
As águas da bacia hidrográfica do rio Gravataí foram Enquadradas através da Portaria
SSMA nº 02 / 98, de 23/01/98 ainda com base na Resolução nº 20/86 do CONAMA.
O Enquadramento determina os seguintes objetivos de qualidade a serem atendidos:
- Classe Especial: área núcleo da Área de Proteção Ambiental ? APA
do Banhado Grande;
- Classe 1: das nascentes do rio Gravataí até a foz do arroio Demétrio,
à exceção da área núcleo do Banhado Grande;
- Classe 2: da foz do arroio Demétrio até a foz do rio Gravataí.
As coletas e análises são realizadas pelo Departamento de Laboratório da FEPAM,
e os dados são armazenados e interpretados pelo Departamento de Qualidade da FEPAM.
Em 2005 o monitoramento do rio Gravataí passou a ter freqüência bimestral, e voltou
a monitorar mais dois locais: GR 028 (Passo das Canoas) e GR 001 (foz do Gravataí).
DESCRIÇÃO DA ÁREA
A sub-bacia hidrográfica do rio Gravataí possui uma área de 2.200 Km² , o que corresponde
a 2,6% da área da bacia hidrográfica do Guaíba, incluindo, total ou parcialmente,
os municípios de Santo Antônio da Patrulha, Taquara, Glorinha, Gravataí, Alvorada,
Viamão, Cachoeirinha, Canoas (zona sul) e Porto Alegre (parte da zona norte).
O sistema de drenagem é formado por três conjuntos de comportamentos hidráulicos
distintos: nascentes, Banhado Grande e curso inferior (ou rio Gravataí propriamente
dito).
As nascentes são constituídas por vertentes íngremes no divisor de águas com o rio
dos Sinos, em altitudes de até 400 m, recolhendo as precipitações e despejando no
Banhado Grande.
O Banhado Grande, que atua como regulador de vazão, originalmente ocupava uma área
de 450 km² , sendo reduzido para apenas 50 km² , em função do uso da água para irrigação
das culturas de arroz.
O rio Gravataí possui um trecho em canal artificial, construído pelo DNOS na década
de 60, iniciando ao final do Banhado Grande até próximo da Olaria Velha, percorrendo
cerca de 20 km.
O rio Gravataí é um rio de planície, de baixa velocidade, sinuoso e com muitos meandros.
Ao longo do seu curso, de 34 km desde o Passo dos Negros até o delta do Jacuí, a
profundidade, a largura e a velocidade da corrente são variáveis, mesmo considerando
curtas distâncias. No seu trecho inferior ocorre o fenômeno de inversão de correntes,
em função da influência do delta do Jacuí.
Os efeitos do regime pluviométrico da região sul refletem-se na vazão do rio Gravataí,
determinando um período de cheia no inverno e um de estiagem no verão. Baseados
nos dados das vazões medidos pelo DNAEE no período de 1939 à 1989, na estação de
Campo Bom (rio dos Sinos) definiu-se o período de estiagem (novembro a maio) e o
período de chuvas (junho a outubro).
A área da bacia do Gravataí apresenta duas regiões com características de ocupação
distintas: predomínio da atividade agropecuária na área superior, banhados, e predomínio
do uso urbano-industrial no curso inferior do rio. Os usos predominantes das águas
são para irrigação de lavouras de arroz (entorno do Banhado Grande e canal do DNOS)
e o abastecimento público no curso inferior, além de servir como corpo receptor
de grande carga de despejos domésticos e industriais.
Segundo levantamentos da FEPAM (Cargas Poluidoras Lançadas nos Corpos Hídricos do
Estado do RS, 1997), as indústrias da sub-bacia do Gravataí geram uma carga orgânica
bruta de aproximadamente 2.516 ton/ano de DBO, mas com o tratamento implantado nas
indústrias, a carga remanescente lançada é de 1.100 ton/ano de DBO.
Quanto aos esgotos domésticos, a carga orgânica gerada é de 19.524 ton/ano de DBO.
LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS DE AMOSTRAGEM
Em 2005 o monitoramento do rio Gravataí passou a ter freqüência bimestral, e voltou
a monitorar mais dois locais: GR 028 (Passo das Canoas) e GR 001 (foz do Gravataí).
RIO GRAVATAÍ
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CÓDIGO
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COORDENADAS
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LOCALIZAÇÃO
|
GR 001
|
S 29° 58? 06?
W 51° 11? 42?
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Foz do Gravataí, Porto Alegre.
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GR 006
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S 29° 57? 37?
W 51° 08? 34?
|
Jusante da foz do arroio Areia, zona norte de POA.
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GR 008
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S 29° 57? 16?
W 51° 07? 36?
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Cachoeirinha, antiga captação, jusante da foz do arroio Brigadeiro.
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GR 028
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S 29° 57? 22?
W 51° 00? 59?
|
Passo das Canoas, Gravataí.
|
GR 034
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S 29° 57? 55?
W 50° 56? 52?
|
Passos dos Negros, Gravataí
|
GR 055
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S 29° 59? 21?
W 50° 45? 37?
|
Saída do Banhado Grande, Glorinha.
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GR 072 CL 000
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S 29° 56? 10?
W 50° 36? 05?
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Arroio Chico Lomã , Sto.Antonio da Patrulha
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Quadro 1 ? Rede de Monitoramento da Qualidade das Águas do Rio Gravataí ? RS.
METODOLOGIA
Para interpretação dos dados foram utilizadas duas metodologias:
- comparação com a Resolução nº 357 / 05 do CONAMA;
- I Q A ? Índice de Qualidade da Água.
Para interpretação dos dados comparando com a Resolução nº 357 / 05 do CONAMA, foram
utilizados os parâmetros oxigênio dissolvido (OD), demanda bioquímica de oxigênio
(DBO) e coliformes termotolerantes, com representações gráficas das concentrações
médias anuais e gráficos das freqüências das Classes do Conama, em cada local de
amostragem, ao longo do período monitorado.
Serão utilizados também gráficos dos metais pesados as respectivas freqüências das
Classes do Conama.
O Índice de Qualidade da Água ? IQA utilizado é uma adaptação do
IQA desenvolvido pela NSF ? National Sanitation Foundation. São apresentados gráficos
das médias anuais de IQA para cada local monitorado. A adaptação do IQA foi realizada
por técnicos da Fepam, Corsan e Dmae quando da implantação da Rede Integrada de
Monitoramento do Rio dos Sinos (1990-1996), através do Comitesinos.
QUALIDADE DAS ÁGUAS
Índice de Qualidade das Águas ? IQA
O cálculo dos Índices de Qualidade será anual, tendo por base as médias anuais de
cada um dos parâmetros utilizados no cálculo do IQA.
O IQA adotado utiliza as seguintes faixas de qualidade:
NOTA
|
CONCEITO
|
0 a 25
|
Muito Ruim
|
26 a 50
|
Ruim
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51 a 70
|
Regular
|
71 a 90
|
Boa
|
91 a 100
|
Excelente
|
Tabela 1 ? Faixas do Índice de Qualidade das Águas ? IQA, adotado pelo NSF-National
Sanitation Foundation.
O arroio Chico Lomã, um dos formadores do Banhado grande tem apresentado qualidade
na faixa de ?Regular?, assim como o ponto de amostragem do Canal (em Glorinha),
na saída do Banhado Grande. O local denominado Passo dos Negros, ainda à montante
da cidade de Gravataí, vinha apresentando queda na qualidade, que foi ?Boa? em 1994
e 1995, passou a ?Regular? de 1996 à 2000, entrou na faixa ?Ruim? em 2001 e 2002,
retornando a faixa ?Regular? a partir de 2003 até 2008.
O Passo das Canoas voltou a ser monitorado pela Fepam. O IQA desde 2007 a 2008 está
na faixa ?Regular?.
O local a seguir, Cachoeirinha (jusante da ponte de Cachoeirinha), esteve em queda
desde 1992, e a partir de 2000 vem melhorando a qualidade, mas ainda na faixa ?Ruim?.
Lembramos que neste trecho entre o Passo dos Negros e Cachoeirinha foram construídas
duas Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs de Gravataí e Cachoeirinha) através
do Pró-Guaíba, mas as ligações prediais na rede coletora ainda não estão concluídas.
A recuperação da qualidade se deu a partir de 2002, coincidindo com a implantação
das ETEs.
Finalmente, o local de amostragem junto à foz do arroio da Areia, que drena a zona
norte de Porto Alegre, está na faixa ?Muito Ruim?, com notas inferiores a 25. Em
2007 e 2008 melhorou ligeiramente, entrando na faixa ?Ruim?. É o pior trecho do
rio Gravataí, com freqüentes mortandades de peixes nos períodos de estiagem.
A Fepam voltou a monitorar a foz do rio Gravataí a partir de meados de 2005, e os
resultados indicam a qualidade ?Ruim?.
Os dados demonstram que a qualidade das águas do rio Gravataí deteriora ao longo
do rio, mostrando claramente a entrada das cargas geradas nos centros urbanos, principalmente
de Cachoeirinha, Gravataí, Alvorada e zona norte de Porto Alegre e zona sul de Canoas.

Gráfico 1 ? Índice de Qualidade das Águas - IQA, valores anuais dos locais de monitoramento
do Rio Gravataí-RS.
QUALIDADE DAS ÁGUAS
Resolução nº 357 / 05 do CONAMA ? Conselho Nacional do Meio Ambiente
Concentrações de Oxigênio Dissolvido
O Enquadramento das águas do rio Gravataí tem como objetivo de qualidade a Classe
1 (cor azul) das nascentes (Chico Lomã) até a foz do arroio Demétrio (jusante do
Passo dos Negros), e concentrações de oxigênio acima de 6,0 mg/L.
Para o trecho final (arroio Demétrio até a foz) o Enquadramento tem como objetivo
de qualidade a Classe 2 (cor verde, concentrações maiores que 5,0 mg/L).
O trecho inicial (nascentes até o arroio Demétrio) apresenta predominância de concentrações
em Classe 1, e em alguns anos a média foi superior a 6,0 mg/L.
No entanto, no trecho final (arroio Demétrio até a foz) predominam as concentrações
inferiores a Classe 4 (concentrações menores que 2,0 mg/L). As médias anuais apresentam
tendências de declínio, em torno de 3 a 2 mg/L. A foz do arroio da Areia apresenta
médias anuais inferiores a 2,0 mg/l, situações potenciais de ocorrência de mortandade
de peixes.
Gráfico 2- Freqüências das Classes de Oxigênio dissolvido.
Gráfico 3 ? Concentrações médias anuais de Oxigênio Dissolvido.
Concentrações de DBO
O Enquadramento das águas do rio Gravataí tem como objetivo de qualidade a Classe
1 (cor azul) das nascentes (Chico Lomã) até a foz do arroio Demétrio (jusante do
Passo dos Negros), e concentrações de DBO (matéria orgânica) inferiores a 3,0 mg/L.
Para o trecho final (arroio Demétrio até a foz) o Enquadramento tem como objetivo
de qualidade a Classe 2 (cor verde, concentrações entre 3,0 e 5,0 mg/L).
As estiagens ocorridas em 2005 e 2006 aumentaram a concentração de DBO (matéria
orgânica).
O trecho inicial (nascentes até o arroio Demétrio) apresenta predominância de concentrações
em Classe 1.
O trecho final, durante as estiagens, apresentou médias de DBO superiores 10 mg/L
(Classe 4).
Gráfico 4 ? Freqüências das Classes de DBO.
Gráfico 5 - Concentrações médias anuais de DBO.
Concentrações de coliformes termotolerantes
O Enquadramento das águas do rio Gravataí tem como objetivo de qualidade a Classe
1 (cor azul) das nascentes (Chico Lomã) até a foz do arroio Demétrio (jusante do
Passo dos Negros), e concentrações de coliformes inferiores a 200 nmp/100ml.
Para o trecho final (arroio Demétrio até a foz) o Enquadramento tem como objetivo
de qualidade a Classe 2 (cor verde, concentrações de coliformes inferiores a 1.000
nmp/100ml).
O trecho inicial (nascentes até o arroio Demétrio) apresenta predominância de concentrações
nas Classes 1 e 2, e médias anuais pouco inferiores a 1.000 nmp/100ml.
No entanto, no trecho final (arroio Demétrio até a foz) predominam as concentrações
de Classe 4 (concentrações superiores a 4.000 nmp/100ml), mas alertamos que as concentrações
médias anuais estão elevadas, atingindo média anual de até 500.000 nmp/100ml.
Destacamos o ponto de amostragem de Cachoeirinha, onde as concentrações de coliformes
apresentam tendência de queda desde 1998. Esta melhoria na qualidade da água, provavelmente
é conseqüência da entrada em operação das Estações de Tratamento de Esgotos ? ETEs,
construídas pela CORSAN através do PRÓ-GUAÍBA,
Gráfico 6 - Freqüências das Classes de coliformes fecais.
Gráfico 7 - Concentrações médias anuais de coliformes fecais.
Concentrações de metais pesados
A atual Resolução CONAMA nº 357 / 05, publicada em 18/03/2005, revoga a Resolução
CONAMA nº 20/86, e nesta nova legislação os padrões de chumbo, cobre e cromo total
estão agora bem mais restritivos.
As concentrações de metais pesados apresentam análises acima das Classes 1 e 2 (figura
8) para alguns metais como cádmio, chumbo e cobre. Destacamos o chumbo, cujo padrão
se tornou mais restritivo na nova legislação.
No entanto, a figura 9 mostra que a maioria destas análises não ultrapassou a Classe
3 , minimizando os problemas para as captações de água (compatíveis com a Classe
3).
Gráfico 8 ? Percentual de análises acima das Classes 1 e 2 do CONAMA.
Gráfico 9 - Percentual de análises acima da Classe 3 do CONAMA.
CONCLUSÕES
O rio Gravataí, no trecho entre o arroio Demétrio e a foz, apresenta maior dificuldade
em atingir os objetivos de qualidade das águas estabelecidos no Enquadramento.
Destacamos as concentrações médias anuais de coliformes fecais, que atingem até
500.000 nmp/100ml, enquanto o Enquadramento objetiva concentrações de Classe 2,
inferiores a 1.000 nmp/100ml.
O trecho final, entre o arroio da Areia e a foz do Gravataí apresenta concentrações
críticas de oxigênio dissolvido, e é historicamente o local de maior ocorrência
de mortandade de peixes por asfixia;
A comparação entre a qualidade atual e o Enquadramento (objetivo de qualidade a
ser atingido) norteará as ações a serem desenvolvidas nesta bacia com vistas a sua
recuperação.
A atual Resolução CONAMA nº 357 / 05, publicada em 18/03/2005, revoga a Resolução
CONAMA nº 20/86, e nesta nova legislação os padrões de chumbo, cobre e cromo total
estão agora mais restritivos.
Finalmente, destacamos que estão ocorrendo melhorias na qualidade das águas no ponto
de amostragem de Cachoeirinha. A melhora na qualidade se deve provavelmente à operação
de duas Estações de Tratamento de Esgotos ? ETEs implantadas pela CORSAN em Gravataí
(Parque dos Anjos) e em Cachoeirinha (ao lado da Freeway).
No verão de 2007, devido a forte estiagem, tivemos problemas com a presença de algas
e a concentração de matéria orgânica. Medidas emergenciais foram tomadas, como o
fechamento periódico de bombas de irrigação para lavouras de arroz.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. FEPAM / DPD, 1998. Qualidade dos recursos hídricos superficiais da bacia do Guaíba
- subsídio para o processo de Enquadramento. Simpósio Internacional sobre
Gestão de Recursos Hídricos. Gramado.
2. FEPAM Fundação Estadual de Proteção Ambiental / PRÓ-GUAIBA, 1997. Diagnóstico
da poluição gerada pelas indústrias localizadas na área da bacia hidrográfica do
Guaíba. Porto Alegre.
3. FEPAM Fundação Estadual de Proteção Ambiental, 1997. Efluentes líquidos industriais:
cargas poluidoras lançadas nos corpos hídricas do Estado do Rio Grande do Sul.
Porto Alegre.
4. LEITE, Enio.H.; COBALCHINI, Mª Salete.; SILVA, Mª Lucia C; ROESE, Ingrid A .
Rio Gravataí ? RS. Qualidade atual x Enquadramento. XXIIº Congresso Brasileiro
de Engenharia Ambiental ? ABES. Joinville, 2003.
5. BENDATI, M.M.; SCHWARZBACH, M.S; MAIZONAVE, C.R.M.; BITTENCOURT, L.; BRINGHENTI,
M. Avaliação da qualidade da água do Lago Guaíba (Rio Grande do Sul, Brasil) como
suporte para a gestão da bacia hidrográfica. Anais do XXVII Congresso Interamericano
de Engenharia Sanitária e Ambiental. Porto Alegre, 2000.
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